A adaptação do Pedro na nova escola foi bem tranquila.
Mas surgiu uma questão que eu não esperava. A turma é
muito heterogênea, inclusive fisicamente e isto causou estranheza às crianças
de uma maneira geral. Pelo o que eu entendi, os diferentes ficaram na defensiva
e Pedro, que aparentemente não tinha problema com ninguém, não conseguiu fazer
amizade com todo mundo e ele não se conformava com isso. Ele vivia questionando
por que ele não conseguia ser amigo de todo mundo como era na Criativa.
E tinha um menino específico que atormentava a existência
do Pedro, a quem ele se referia como “aquele do dente estranho”.
Comecei explicando que na Criativa ele conhecia todos
desde bebê e que para construir laços demandava tempo e que ele só não lembra
disso porque era muito pequeno.
Mas quando fizemos a tal reunião individual na escola, a
coordenadora me disse para direcionar Pedro a algo mais real: não agradamos a
todos assim como nem todos nos agradam. Então é normal que alguém não goste de
vc e tb é normal que vc não goste de alguém. E ela pediu para enfatizar esta
segunda possibilidade para que Pedro não se sentisse culpado se por um acaso
não gostasse de alguém.
Fato é, a questão da dificuldade de relacionamento da
turma por conta de diferenças físicas devia estar tão evidente que o projeto do
primeiro trimestre do ano letivo passou a ser sobre as diferenças. E os pais
foram convocados para uma reunião sobre o método adotado pela escola que achei
simples mas eficaz pois parece já estar dando grande resultado. Eles se
basearam principalmente em leitura e interpretação de livros dentro do tema,
além de algumas atividades.
A escola, que estimula o pensamento e a autonomia também
sempre propõe rodas de discussão diante de um problema onde os próprios alunos
chegam à solução de seus impasses.
Uma das atividades que a professora contou que fez com a
turma e que eu mais curti foi a dança dos cadernos de desenho. Cada criança
começava fazendo um desenho no seu próprio caderno. Quando a música parava,
elas tinham que entregar o caderno para o amigo da direita continuar o desenho.
Claro que não deu certo porque um espírito de porco resolveu rabiscar o caderno
alheio ao invés de completar o desenho. As meninas ficaram revoltadas. A Júlia
(prof) parou a atividade e propôs uma roda de discussão e perguntou o que eles
estavam sentindo diante do ocorrido e como achavam que podiam resolver este
problema. Ao final, as meninas quiseram arrancar suas folhas rabiscadas e todos
chegaram à conclusão de que não podiam fazer com o amigo o que não gostavam que
fizessem com eles próprios. E a Júlia propôs nova dança dos cadernos para ver
se todos tinham entendido. E a segunda rodada foi perfeita e fluida.
Agora que todos entenderam que diferenças são saudáveis e
importantes para o enriquecimento individual e coletivo, a paz parece estar
reinando.
E Pedro mais feliz com as novas amizades.
Este é o novo amigo Pipe |
A turminha toda! |