Ontem cheguei em casa e encontrei o Pedro quase chorando e com carinha de pânico. Ele veio correndo para a porta mas, ao invés do abraço forte que sempre me derruba no chão, fui recebido por um discurso agitado contando que uma cigarra tinha invadido seu quarto. O moleque estava agitado, com aquelas mãozinhas gesticulando rapidamente e me mostrando como o bicho tinha entrado pela janela, voado em volta da luz e caído no chão perto dele. Depois voou novamente em direção à luz e fez um barulho estranho que o assustou e quebrou a luz (não quebrou, mas ele teve esta impressão).
Salete estava ao seu lado, com aquele jeitinho calmo que lhe é peculiar, e em meio aos argumentos e frases agitadas do Pedro, me disse que a cigarra já tinha ido embora, voando pela janela. Muito tranquilo e sereno, expliquei para o Pedro que ele não precisava ter medo, que a cigarra é um bicho feio mas que não faz mal nenhum a nós, não morde, não pica e não ataca. É apenas um inseto que já tinha ido embora e que, de qualquer jeito, agora o super papai já estava em casa com ele, que ele não precisava temer o tal bicho.
Por fora eu era um poço de serenidade e segurança. Por dentro meu coração batendo acelerado, a adrenalina correndo a 200 Km/h pelas minhas veias e um ligeiro tremor nas pernas e braços. Eu tenho *P*A*V*O*R* de insetos voadores e me arrisco a dizer que uma cigarra é a manifestação mais violenta deste repugnante objeto de fobia. De verdade tenho medo de minha reação se um dia estiver brincando com o Pedro no quarto e uma maldita cigarra resolver dar este passeio sobre nossas cabeças fazendo aquele arrepiante barulho do filme psicose e que algumas pessoas muito filhas da p*** resolveram chamar de "canto das cigarras".
Tenho fé que o instinto paterno será mais forte que o instinto de sobrevivência e ao invés de agarrar o Pedro pelas pernas e atirar sobre a cigarra, eu simplesmente diria
"olha filho, uma cigarra, vamos espantá-la para fora de casa". Mas, sinceramente, acho mais provável uma reação meio-termo. Não usaria o Pedro de escudo, mas talvez o agarrasse de qualquer jeito e sairia correndo até chegar no elevador. Fechando cada porta no caminho. Medo é assim, irracional. Uma coisa que me irrita é quando as pessoas, bem intencionadas eu sei, tentam controlar nossa fobia dizendo que
"é um bicho menor que você, ele que deveria ter medo". Sério, cocô de mendigo é bem menor que eu e mesmo assim eu morreria de medo se um viesse voando na minha direção!!!
Mas é claro que eu não quero passar esta fobia para o Pedro, afinal interromper uma reunião com todos os seus funcionários porque um besouro entrou na sala ou simplesmente ir embora de um cliente porque um enxame de insetos resolveu invadir o escritório não são exatamente acontecimentos que deixam o sujeito orgulhoso. Então, totalmente controlado (principalmente porque a cigarra havia voado para fora de casa), fomos juntos procurar a cigarra pela casa.
Quando o Pedro já estava mais tranquilo, como quem não quer nada, perguntei à Salete: "mas Lete... você viu a cigarra saindo pela janela?". Sua resposta foi "não Duda, mas ela estava aqui quando fui buscar uma vassoura para espantá-la e quando voltei já não estava mais, deve ter saído pela janela".
Hã?! What?! Deve ter saído pela janela?! Você não
tem certeza de que ela saiu pela janela?!?! Discretamente fui procurá-la na luminária e lá estava o monstrinho voador (tirei uma foto e tudo!). Continuei calmo porque ela parecia morta, de barriga para cima. Mas quando ela começou a bater as asas e fazer barulho... levei o Pedro para o banho e só saímos depois que mamãe chegou em casa!
Beijos do papai-duda-cigarrafóbico