Isso, é claro, criou uma certa dificuldade para o papai. Antigamente eu geralmente recorria à estória do João Pé de Feijão porque, além de conhecer bem já que o meu pai sempre contava esta, é uma estória longa e geralmente rendia o tempo suficiente para o moleque dormir. Além disso, eu já tinha criado os meus truques para dar ainda mais sono ao Pedro. Eu contava mais ou menos assim (em uma voz baixinha e o mais monótona que eu consigo fazer):
"Era uma vez um menino chamado João.
O pai e mãe de João trabalhavam muito mas mesmo assim eles moravam em uma casa bem pequena.
A casa tinha um quintal pequeno, uma sala pequena, um corredorzinho pequeno, um banheiro pequeno e um quarto pequeno.
Papai e mamãe dormiam na sala porque no quarto o João dormia com seus avós.
Era o avô pai de sua mãe, a avó mãe de sua mãe, o avô pai de seu pai e a avó mãe de seu pai..."
No ritmo que eu contava, esta parte já levava uns quinze minutos. Era comum o Pedro dormir antes que o João plantasse os tais feijões mágicos! E eu contava mais ou menos no piloto automático, muitas vezes em estado intermediário entre cochilando e acordado. Mas agora o guri me ferra com pedidos assim:
"Papai, papai. Conta uma estória? Mas eu vou escolher... eu quero... eu quero... a estória do Ninja Go quando eles entram na caverna da serpente e encontram o monstro de olhos vermelhos" (hein?) ou "eu quero a estória dos Irmãos Krats que tem o caracal". Isso, caracal, um gato africano com orelhas longas e que salta muito alto para pegar galinhas d'angola selvagens. Não confunda, por mais sono que você estiver, com caracol !!!
Pois é, às vezes eu confundo. Aliás, muitas vezes a estória segue um rumo meio inusitado:
Papai: Era uma vez dois irmão chamados Cris e Martin que viviam explorando a savana africana. Eram os irmão Krats, que um belo dia encontraram... é... é... [sono batendo]...
Pedro: Papai, conta!
Papai: Hã... quem... é o João Pé de Feijão...
Pedro: Não papaiê! Os irmãos Krats! Conta, contaaaaa!
Papai: Ah sim, os irmãos Krats estavam na savana... na savana africana... e viram... é... viram um gato caracal... aí, de repente... amanhã preciso passar no banco... e os caracóis... alô, quem fala?... já vai descer do ônibus?...
Pedro: Papaiê! Acorda! E conta a estória!
Beijos do papai-com-sono
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