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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Assustador e emocionante

Na reunião pré-primeiro-dia na escola nova que o Pedro começou esta semana, havia a seguinte pergunta no quadro: "como é ser pai e mãe de uma criança no primeiro ano?". Tínhamos que escrever alguma coisa no cartão branco e depois apresentar perante os outros pais e mães da turma. Sim, a gente meio que volta para a escola nas reuniões dos nossos filhos. Na última da escola antiga, fizemos um trabalho em grupo e eu fui eleito para representar o nosso, falando sobre o "exemplo" que damos aos nossos filhos. Mas ontem era uma pergunta simples, de difícil resposta. A minha virou o título deste post.

Não é totalmente verdadeira. Estou amarradão com o crescimento do nosso pequeno-grande e do nosso pequeno-pequeno. É muito gostoso e interessante acompanhar tão de perto e tão intensamente a formação de um novo ser-humano. É coisa meio de nerd falar assim, mas realmente é incrível ver aquele feijãozinho que a gente plantou virando uma pessoa, com autonomia, vontade própria (às vezes vontade própria até demais, diga-se de passagem), opiniões, desejos, medos, vontades e uma personalidade única. É animador e emocionante.

Mas também é um pouco assustador. E olha que eles ainda nem são adolescentes saindo para um acampamento humanitário junto às populações nativas do Suriname. Mas esta semana passamos por um momento super delicado com o pequeno-grande, saindo de suas primeiras férias (em suas próprias palavras, "os melhores dias da minha vida") e começando em uma escola nova. Uma escola que nós escolhemos para ele, depois de muita pesquisa, algumas dúvidas, centenas de conversas e a mesma insegurança de sempre... "será que vamos acertar?".

Algo que nos dava uma certa rede de segurança era saber que havia outros amigos e amigas indo junto com ele. Seriam Pedro, Paola, Lis, Alice e Matheus juntos, enfrentando o grande desafio do primeiro ano em uma escola muito maior do que aquela casinha verde que os acolheu desde que nasceram, praticamente. Mesmo sabendo que eles estavam indo para um outra casinha verde, estávamos inquietos na tal reunião e, para completar, pela primeira vez chegamos atrasados. E de repente, no meio da trilha entre a portaria e a sala de aula, descobrimos que o grupo foi separado.

What?!

Confesso que naquele momento o sentimento foi de que a casinha verde tinha caído. Olhava para o lado e via a Ligia o nariz do tamanho dos narizes do Patati-Patata juntos (nota para quem não conhece bem a Ligia: sabem aquela estória do Pinóquio, que o nariz cresce quando ele mente? Com a Li acontece quando ela quer chorar mas não quer chorar. O nariz fica vermelho e dobra de tamanho enquanto os olhos ficam mareados e as sobrancelhas juntam com a testa franzida. Lendo assim parece até que ela fica feita, mas quem conhece bem a Ligia sabe que ela não fica feia nunca!). No fundo, havia ainda o peso de saber que aquela escolha, da escola, era nossa, mas que o advogado principal fui eu. E agora? Respondo: "assustador".

A segunda parte (o "emocionante"), confesso que coloquei ali apenas para não parecer muito neurótico perante os outros pais. Não havia nada de emocionante naquele momento, era só assustador mesmo. Por outro lado, foi fácil nos sentir super acolhidos. A nova professora do Pedro, percebendo o tamanho do problema, imediatamente nos disse que tudo seria resolvido com a coordenadora e fez vários esforços para que conseguíssemos falar com ela o quanto antes. Os outros pais também perceberam o problema (será que somos muito transparentes?...) e imediatamente começaram a fazer campanha para que ficássemos na turma e na escola. Gente bacana!

Ligia saiu da sala para conversar brevemente com a coordenadora enquanto eu permaneci na reunião. Voltou com a notícia de que não havia como juntar todo mundo, mas que faríamos uma conversa com calma, com os pais das cinco crianças, após o encerramento da reunião. Quando a reunião acabou, fomos em busca da coordenadora, que estava circulando pelas salas. Imediatamente várias pessoas se prontificaram a ajudar, procurando a mulher por todos os cantos. De repente havia um monte de gente envolvida na questão dos nossos filhos! Gente bacana novamente!

Conversamos, argumentamos, insistimos, bajulamos, dialogamos, fizemos conta, citamos pedagogos, plantamos bananeira e montamos acampamento na escola. Quando a coordenadora percebeu que dormiríamos, comeríamos e viveríamos ali na porta da sala dela eternamente, ou até que ela autorizasse a transferência, ela soltou "gente, já troquei!". Foi um alívio geral, gritos, sorrisos, abraços, pulinhos e acho até que vi, com o canto de olho, uma das mamães fazendo a dancinha da felicidade. Não posso jurar que era a Liginha, mas...

Instantaneamente também saíram duas toneladas do meu ombro. Estávamos em busca de uma escola onde houvesse diálogo, as crianças fossem vistas individualmente, onde houvesse "jogo de cintura" para resolver os problemas. Fomos mal-educados pela Criativa, onde problemas ocorriam, mas sempre éramos ouvidos e havia um esforço legítimo para resolver. E agora, a poucas horas de começar o ano letivo, um problemão desses! Como seria a reação das pessoas? Como tratariam o problema? O que pensariam dos nossos desejos? Da nossa postura?

No final foi tudo o que eu imaginei que seria, quando estava escolhendo a escola.

Houve diálogo. Houve acolhimento. Houve esforço para ajudar. Houve considerações, é claro. Mas saí de lá menos assustado e mais emocionado. Saí com a sensação de que escolhemos a casinha verde certa e que realmente construiremos juntos um mundo melhor. Porque permitiremos que o Pedro seja tudo aquilo que ele nasceu para ser, do jeito que ele quiser ser e com a segurança de que estaremos ao seu lado torcendo e ajudando no que ele quiser que a gente torça e ajude. Seja lá o que isso tudo signifique, tenho certeza que será maravilhoso.

Viram? Acabou mais emocionante que assustador...


Beijos, pai do Pedro e do Bernardo.




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