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terça-feira, 31 de maio de 2011

Medão

Os acontecimentos foram rápidos e intensos demais e, por isso, muita gente vai acabar tomando conhecimento, em primeira mão, através do blog. Vou começar pelo fim dizendo que tudo correu da melhor maneira possível e estamos todos bem. Mas o Pedro nos deu um sustão nesta madrugada de domingo para segunda.

Já vínhamos observando uma piora nos choros do Pedro desde quarta-feira passada, mas tudo apontava para a tradicional e desagradável cólica. Só que as coisas foram piorando até atingirem o auge no domingo. Pedro começou a chorar de dor, muita dor, por volta das cinco da tarde.

Ficamos em contato com o médico e tentamos vários paliativos mas as coisas, infelizmente, não estavam melhorando. Só que nada apontava para um caminho diferente das cólicas até que, depois da meia noite, fomos trocar uma fralda do Pedro e notamos que o seu saquinho estava mega inchado e endurecido em um dos lados. Opa, isso não estava no script da cólica.

Ligamos mais uma vez para o médico e recebemos o diagnostico já no telefone. Era uma hérnia que havia descido, causando dor intensa e que precisava ser tratada imediatamente. Na melhor das hipóteses, no hospital conseguiriam reduzi-la e marcaríamos uma cirurgia para os próximos dias. Se a melhor das hipóteses já era punk demais para o coraçãozinho deste pai, o mais pessimista era uma cirurgia de emergência na madrugada.

Então juntamos as nossas coisas e fomos para a emergência. Quando chegamos já passava de uma da manhã. É óbvio que pedimos socorro e a trupe toda apareceu no hospital (vovô, vovó, vovó, dinda, dinda e dindo). Mas o sofrimento se prolongou por horas que pareciam meses. O plantonista tentou reduzir a hérnia enquanto o Pedro e a trupe chorava. A cirurgiã do plantão, que não era pediatra, também tentou. Por último o cirurgião pediatra (indicado pelo médico do Pedro e acordado no meio da madrugada para nos atender) também tentou bastante até achar que havia conseguido.

Parecia que, pelo menos para aquela madrugada, o drama havia terminado. Pedro estava mais calmo que o resto do mundo. Primeiro raio x do Pedro... não ficou bom. Tira outro... este está melhor, parece que reduziu. "Podemos ir chorar em casa?". "Ainda não, vamos fazer uma ultra para ter certeza". Infelizmente ficou uma alça, o médico ainda tentou mais um pouco e sem sucesso decretou "vamos operar".

A próxima hora passou burocraticamente, preenche aqui, assina ali, responde questionário... "o paciente tem alguma alergia?". "Não sei, o paciente tem um mês e meio de vida, ainda não deu tempo de ter alergia!". "O paciente já sofreu alguma cirurgia?". "O parto conta?". "Senhor, o seu plano não cobre este hospital, estamos tentando uma transferência...". "Pelo amor de Deus, são quatro da manhã. Faremos particular mesmo. Eu deixo um rim meu como garantia, pode ser?".

A equipe chegou, tudo pronto. Papai e mamãe podem levar o paciente para o Centro Cirúrgico. Mas... peraí. O "paciente" é o meu filhinho de um mês e meio. É aquele pedacinho de gente que ainda faz parte de nós. É aquele serzinho que olhava nos nossos olhos como se dissesse "papai, mamãe, o que está acontecendo? Por que o moço ficou me apertando? Que dor toda é essa? O que eu fiz de errado? Podemos ir para casa? Juro que não vou mais golfar na roupa limpinha...".

Como é que um sujeito consegue entregar o seu maior tesouro, com dor, a uma pessoa estranha na porta do Centro Cirúrgico no meio da madrugada??? Quer saber... não consegue! Faz porque tem que fazer. Fizemos porque não tinha outro jeito. A única coisa que eu consegui balbuciar foi "toma conta dele direitinho" e desmoronei.

Acho que só não caí no chão ali na porta do Centro Cirúrgico porque não queria derrubar a Ligia junto. Mas chorei de um jeito que eu nunca tinha chorado. De um jeito que eu nem sabia que dava para chorar. Fui chorando no elevador e continuei chorando no corredor. Entrei chorando no quarto e continuei chorando por muito tempo. Várias pessoas me confortaram (a trupe estava toda lá, lembra?) e choraram junto comigo, mas não conseguia abrir os olhos para ver quem era quem.

Depois de me recuperar um pouco, ainda precisei esperar por uma hora inteira até ter notícias da cirurgia. Quando o médico ligou para o quarto avisando que tinha terminado e estava tudo bem, um peso enorme saiu dos meus ombros. Ainda fiquei ansioso até a hora em que pudemos ir buscá-lo na mesma porta onde o havíamos entregue ao médico antes. Só quando ele veio com os olhos abertinhos para os nossos braços que o meu coração voltou a bater normalmente.

Foi um sustão. O primeiro. Espero que outro desses nunca mais. No final a Ligia descreveu muito bem "nunca senti um medo tão grande na minha vida".

Já voltamos para casa e o Pedro está passando bem. Mas papai e mamãe ainda vão demorar um pouco até recuperarem o fôlego.

Beijos dos caquinhos que sobraram do pai.

4 comentários:

  1. Tio Dú, que bom que meu priminho estar bem, nossa que sustão mesmo, eu e o priminho já estamos mostrando que não vamos dar sucego, depois pergunta para a vovó Linda o que eu fiz com a minha mamãe assim que ela desligou o telefone com minha Dinda de tão mexida que ela ficou rsrsrs....
    Beijos grande e tentem se cuidar direitinho também.

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  2. Puxa, a dindavó Lili não chorou na hora porque não sabia de nada, estava dormindo, mas agora chorou mais do que quando chegou ao hospital ontem pela manhã... Muitos beijos para todos vocês!!!

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  3. Fiquei com o olho cheio de lágrima só de ler o post e lembrar tudo de novo!
    Graças a Deus que tudo acabou super bem e o Pedrinho tá aí já com uma história para contar! Guerreirinho esse menino!
    Beijos nos 3!

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  4. O vovô chorou no hospital, chorou agora, lendo o post, e vai chorar toda vez que lembrar as horas de sofrimento que passamos. Graças a Deus que o nosso Pedro está bem. Eu que já estava apaixonado por ele, agora senti que ele não é só meu neto, e sim uma parte de mim. E meus filhos, com todo amor que tenho por vcs, neste momento vcs estão em segundo plano, pois o Pedro é a coisa mais rica que jká aconteceu na minha vida.Um grande beijo de Vô chorão e babão.

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