Pedro, meu filho, nasceu há um mês e meio. Muito antes disso, porém, já me considerava pai. Especificamente no dia em que a Ligia anunciou a gravidez, passei a ser o pai do Pedro (que naquele momento também podia ser a Júlia). Já a partir daquele primeiro momento passei a participar e me envolver com a paternidade. Até aí, nada demais. Na minha cabeça, no meu mundinho, todo pai passa por esta experiência deste jeito, participa de forma intensa. Fui a todas as consultas e exames durante a gravidez. Conversei com o Pedro todas as noites enquanto ele estava dentro da barriga. Pensando bem, acho até que exagerei um pouco porque também engordei, tive enjôos e até ganhei um pouco mais de barriga!
Pesquisei, li vários livros, acessei um monte de sites e conversei com amigos e amigas que já tinham passado pela experiência da gravidez. Estava presente na sala durante a cirurgia do parto e não fechei os olhos em nenhum momento! Estava atento e, privilegiado, vi o Pedro no exato momento em que veio ao mundo. A Ligia, na posição em que estava, ainda precisou esperar alguns segundos ouvindo a minha voz emocionada narrando “ele é lindo!”.
Enquanto a Ligia se recuperava da cirurgia, em casa dei o primeiro banho, troquei a primeira fralda e tenho até a pretensão de dizer que cheguei a amamentar o meu filho. No copinho, já que não tenho seios. Acho que isso tudo me coloca na posição de um pai que participa e que realmente se envolve com a vida do seu filho. Não faço isso para compensar uma ausência materna. Pois, muito pelo contrário, a Ligia está sempre presente no papel de mãe extremamente dedicada e cheia de amor. A Ligia, sem dúvida, merece o título de mãezona.
Fiz (e faço) isso tudo de forma muito natural. Fiz (e faço) porque eu sempre achei que era assim. Não faço pelos elogios ou para o espanto dos outros. Não sou assim pelo meu filho ou pela Ligia. Sou assim por mim mesmo, porque é muito gostoso ser assim. Então, se não estou em busca de auto-promoção por que diabos resolvi escrever sobre isso aqui no blog?
Porque em pleno século XXI, aqui no país do futuro, às vezes me sinto uma aberração. Parece que estou invadindo o espaço que deveria ser da mãe. A Ligia jura que não pensa assim e acredito nela, mas é muito interessante constatar como ainda vivemos em uma sociedade patriarcal onde é a mulher quem cuida do filho e o homem fica responsável em ser o provedor, em levar o dinheiro para casa no final do dia para que a mãe possa comprar o leite ou as chupetas. Vivi várias situações que deixam isso muito claro.
No consultório do pediatra, por exemplo, todo o processo está voltado para a mãe que leva o filho. Às vezes encontro um ou outro pai na sala de espera além de mim, mas nitidamente somos os estranhos no ninho. Os diálogos com as secretárias no telefone são geralmente assim:
Eu: Alô?
Secretária: Este não é o telefone da mãe do Pedro?
Eu: Não, é o telefone do pai do Pedro.
Secretária: É que ela ligou marcando uma consulta...
Eu: Não, fui eu mesmo quem ligou. Pode falar;
Secretária: Está marcado amanhã às 15:00h. Você poderia ver com ela se está confirmado, por favor?
Eu: Tudo bem, pode confirmar.
Secretário: Perfeito, muito obrigado. Avise a ela que estaremos esperando, ok?
Eu: Tá bom, nós vamos juntos.
Secretária: Você quem é mesmo?
Eu: O pai do Pedro.
Secretária: Ah, tudo bem, o médico deixa você entrar também.
Todos os livros que estou lendo sobre criação do filho se dirigem à mim como “minha querida leitora, mamãe”. A maioria, inclusive, dá boas dicas sobre o que o pai pode fazer para ajudar. Ou não atrapalhar muito. Tipo um assistente, sabe?
Fomos visitar uma creche outro dia. Eu entrei no site, li de cabo à rabo, peguei o telefone e liguei para marcar a visita. Fui com a Ligia, nos apresentamos juntos e fizemos a visita por toda a creche. A Ligia fez umas dez perguntas. Eu fiz umas vinte perguntas. No final da visita a secretária entrega o folder para a Ligia e fala “então Ligia, você conversa com o seu marido, decide e depois me liga”. Peraí, ninguém estava me vendo lá em pé ao lado dela o tempo todo?!?!?!? Tudo bem, tranqüilo. Fomos para casa, a Ligia conversou com o marido dela (eu) e decidimos fazer a matrícula do dia seguinte. Chego lá, encontro a mesma pessoa que apresentou a creche ela me diz “ainda bem que você veio hoje, quase que vocês perdem a vaga por causa da uma transferência. Eu avisei que já tinha prometido a vaga para uma mãe que esteve aqui ontem e já estava até ligando para a Ligia...”. “Ufa, ainda bem que a dona Ligia me mandou correndo aqui hoje” pensei.
Neste meio tempo passei a me perguntar o porquê da licença maternidade ser de quatro meses e o pai ter direito apenas a uma semana. Tipo, depois que levou a mãe e o filho para casa e foi no cartório registrar, pode voltar ao trabalho que em casa você vai dificultar as coisas? Tudo bem, tem o aleitamento que é uma função exclusiva da mãe. Mas a mãe poderia até deixar o leite estocado na geladeira, se fosse o caso. Proponho aos nossos legisladores uma licença flexível. Assim: o casal tem direito a seis meses de licença e podem dividir como quiserem. A mãe pode ficar os seis meses e o pai vai trabalhar no dia seguinte. Ou o pai pode ficar os seis meses e a mãe volta ao trabalho logo. A divisão justa seria três meses para cada um. Lá em casa seria uma negociação ferrenha!
Então é assim que vou seguindo a minha vida e espero que isso não vá traumatizar o Pedro. Tipo, já imagino os moleques no colégio zoando “fala sério Pedrinho, teu pai trocava suas fraldas. Aêêêê, mó filhinho de papai aê”.
Beijos do pãe.
Duda!Que post mais lindo!!!Se metade dos pais fossem como você sem duvidas as pessoas saberiam melhor o significado do amor.
ResponderExcluirA função do pai é muito importante no desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança.
O grande problemas é que são poucos os pais que se interessem e fazem questão de particpar de verdade desse crescimento.
Sem dúvidas o Pedro teve muita sorte de ter você como pai, e tenho certeza de que serão melhores amigos o que é fundamental para crianção de um filho no mundo de hoje.
Beijos
MELHOR PAI DO MUNDO!
ResponderExcluirE eu amo este pai....