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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Tribo

Em Fevereiro, antes mesmo do Pedrinho nascer, escrevi aqui sobre o Planeta Criança. Naquela ocasião tinha apenas uma pequena dimensão sobre o que significava viajar para este planeta. Estávamos planejando as compras do enxoval do Guigo e percebendo que as opções eram bastante vastas e que ser pai exigia conhecimentos técnicos apurados. Mas, apesar de já ter o ticket, naquela época ainda não tinha embarcado para o tal planeta.

Agora já o estamos habitando há um tempo. Pedro nem é mais um bebê, já é uma criança que rola, engatinha, bate com a cabeça, fica em pé no berço, faz chantagem emocional, sabe o que quer e manda e desmanda nesta casa. Mas a viagem é tão intensa que, por algum tempo, esqueci de observar. É mais provável que eu simplesmente não tenha tido tempo de observar, enquanto tentava convencer o Pedro a comer mais uma colherzinha do almoço.

Mas neste final de semana, de repente, percebi com um certo deslumbre que já sou um veterano deste passeio ao planeta criança. É claro que existem outros passageiros mais frequentes e antigos do que eu, só que já não me sinto tanto aquele pai trainee com um moleque quietinho de pescoço mole que não incomoda ninguém. Esta percepção aconteceu no Jardim Botânico, sábado de manhã.

Fomos encontrar amigos para mais um agradável café no espaço criado pelo Príncipe-Regente Dom João em 1808. Logo que chegamos ao café e escolhemos uma mesa, notei um casal com um bebê muuuuuuito bebê no carrinho. Eles estavam com aquela cara de pai-zumbi enquanto o neném dormia calmamente com a cabecinha caída sobre os ombros.

Aquela visão, enquanto eu e Li segurávamos um Pedro frenético querendo andar, subir na mesa, rasgar os guardanapos e sua amiga Catarina deixava claro para a garçonete o que ela gosta e o que ela não gosta no café da manhã, tive um vislumbre de que aquele casalzinho vivia um período que, apesar de ter sido há poucos meses, já não fazia mais parte da minha vida.

Depois fomos para o parquinho das crianças dentro do Jardim Botânico. Não há um lugar que realmente represente o planeta criança melhor do que um parque de areia e lama no primeiro sábado de verão com sol. Foi ali, sentado na sombra enquanto o Pedro tirava um rápido cochilo, que me dei conta de que realmente faço parte de uma nova comunidade.

As crianças corriam de um lado para o outro, todas muito enérgicas. Eram crianças de todas as idades, raças, credos e classes sociais. Mas ali no meio da areia molhada não fazia muita diferença se era um moreninho usando shorts e sem camisa, uma princesinha vestida de rosa com babados ou um lourinho fantasiado de super-homem. Depois de cinco minutos no parquinho, todos pareciam bichinhos cheios de areia com algum pai ou mãe correndo atrás.

Olhei a cena toda e pensei... "pois é, agora eu faço parte desta tribo. Sorte que o Pedro ainda não liga para brincar na areia suja". Cinco minutos depois o Pedro acordou e foi brincar no chão. E adorou a sensação da areia em seus dedinhos...

Beijos do pai-trainee-sênior.



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