Pois é, superadas as dificuldades iniciais, vieram as dificuldades adicionais! Refluxo, soluço, gases. Mas fomos superando uma a uma e o Pedrinho ganhando peso e altura conforme desejado. Mas isso não quer dizer que o almoço hoje em dia seja tarefa simples. Eu, por exemplo, encaro como se fosse uma batalha. Quando vai chegando a hora, preparo toda a logística, posiciono os reforços, traço uma estratégia e parto para cima do meu objetivo. Invariavelmente preciso recuar e improvisar, porque a resistência é forte.
Nos finais de semana, mamãe e eu fazemos um trabalho de equipe. Enquanto um distrai o Pedrinho, o outro fica com a responsabilidade de enfiar a colher na goela com o máximo de alimento possível. Para distrair vale qualquer coisa, por mais ridícula que se torne a situação. Música, dança, piadas, imitação de bichos... nada é tão ridículo que ainda não tenha sido tentado. Para o responsável pela colher, qualquer oportunidade precisa ser aproveitada. Esteja o moleque abrindo a boca para comer, rir, chorar ou bocejar. Abriu um pouquinho a boca, toma colher para dentro!
Mas algumas vezes a batalha é solitária e é neste momento que o planejamento, a criatividade e a sorte são fundamentais. Como qualquer pessoa, Pedro tem algumas preferências culinárias. Ele gosta muito, por exemplo, de batata baroa. Ok, não o suficiente para ficar quietinho abrindo a boca e comendo tranquilamente. Mas ter a batata baroa como aliada na hora do almoço é muita sorte.
Quando acontece comigo, por exemplo, uso a batata com muita cautela e parcimônia. Ao mesmo tempo que ela deve estar presente em todas as colheradas, é importante deixar uma reserva de emergência para o final do almoço. Quando o Guigo começa a rejeitar, dou uma colherada só de batata baroa. Em geral, ele acaba colaborando nas duas colheradas seguintes até perceber que a proporção de batata baroa caiu assustadoramente e voltar a fechar a boquinha solenemente.
Os apetrechos para o almoço também devem ser cuidadosamente pensados. Depois de alguns testes, acho que a melhor fórmula é começar apenas pedindo para o menino abrir a boca. Quando ele come mais ou menos 10% do almoço a dificuldade começa e aí entram o papai noel e o boneco de neve. São bonecos que cantam e balançam a cabeça. Cada vez que um canta, o Guigo se distrai e abre a boca. Isso nos dá mais ou menos mais 5% da porção do almoço, até que ele começa a ficar entediado com aqueles bonecos. Neste ponto eu já estou prestes a jogar uma cadeira na primeira pessoa que passar cantando "dingo bell", mas sigo controlado e determinado.
A partir deste momento é necessário intercalar distrações. Canto para ele a música do Alecrim, enfatizando o "A" do alecrim na esperança de que ele vá me imitar e abrir bastante a boca cantando junto comigo. Nunca funciona, mas eu continuo tentando. Repito insistentemente alguns sons sem sentido tipo "bababa buuuuuuu", "tchi tchi tchi", "wii wii wii". Batuco com a colher na mesa e na estátua de metal que fica sobre a mesa e aperto botões em brinquedinhos sonoros. Algumas vezes faço tudo isso ao mesmo tempo, ignorando a sugestão de que a criança precisa de um ambiente tranquilo para comer.
Mas o inferno é que o garoto se distrai mesmo é com um maldito grãozinho de arroz que sempre cai no meio das pernas dele. E aí, além de não abrir a boca, ele ainda fica olhando para baixo com o queixo encostado no peito e o dedinho jogando o grãozinho de arroz pra lá... e pra cá... pra lá... e pra cá... pra lá... e pra cá... a tentação de enfiar a colher pela orelha e ver se a comida encontra o caminho sozinha dentro do Pedro é gigante. Mas até hoje eu resisti e fico apenas insistindo "meu filho, olha para o papai, vai? Aqui ó... bruuuuuuuu, tchi tchi tchi, abre a boquinha vai".
Ontem resolvi usar uma colher pequena extra para ajeitar a comida na outra colher, aquela que deveria levar o alimento à boca do Pedro mas geralmente acerta o nariz, o queixo ou fica batendo na sua boca fechada. O engraçado foi que lá pelo meio da batalha, que por sinal eu estava perdendo, fui limpar o queixo do Pedro com a colher pequena e ele abriu um bocão. Sério, foi a primeira vez na refeição que ele abriu a boca com vontade e eu estava com uma colher vazia!!!
Mas, pelo menos, percebi o truque e passei a usá-lo a meu favor. Juro que não usei a colherzinha como fórceps para abrir a boca dele. Bem, quase não usei. Deixa esta parte para lá, o truque era encher a colher principal de deixar à postos, tipo a dois centímetros da boca do rapaz. Com a outra mão, passa a colherzinha no queixo como se fosse apenas limpá-lo e no momento em que ele abre a boca, tasca comida pra dentro!
E assim, no final de uma hora de batalha, papai ostenta orgulhoso o potinho vazio, apesar do suor escorrer por todo o meu corpo e o chão ficar salpicado de comida a três metros de onde o Pedro senta para almoçar.
Beijos do pai-soldado.
Colherzona e colherinha... amigas inseparáveis! |
"Abre a boquinha, vai?..." |
Dificuldade para comer? Não puxou o papai... :)
ResponderExcluirEsta foi uma observação profissional?... :-)
ResponderExcluirEu ADORO dar comida ao Pedro pois é muito engraçado ficar assistindo o Du tentando fazê-lo abrir a boca. Du não tem limites!
ResponderExcluir