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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Comer, comer, é o melhor para poder...

Dar comida ao Pedro, definitivamente, não é uma das tarefas mais fáceis. Várias pessoas que ficaram responsáveis por cuidar do Pedro, hora ou outra foram obrigadas a jogar a toalha e partir para o leite, que hoje em dia o moleque dificilmente rejeita. De certo modo, vivo a dificuldade de alimentar o menino desde que ele nasceu. Não por falta de comida (ainda bem!), mas porque parece que ele não será um comilão mesmo. Quem não lembra do moleque tendo que tomar leite no copinho com menos de uma semana de vida? E o papai aqui suando e tenso com medo do menino engasgar!

Pois é, superadas as dificuldades iniciais, vieram as dificuldades adicionais! Refluxo, soluço, gases. Mas fomos superando uma a uma e o Pedrinho ganhando peso e altura conforme desejado. Mas isso não quer dizer que o almoço hoje em dia seja tarefa simples. Eu, por exemplo, encaro como se fosse uma batalha. Quando vai chegando a hora, preparo toda a logística, posiciono os reforços, traço uma estratégia e parto para cima do meu objetivo. Invariavelmente preciso recuar e improvisar, porque a resistência é forte.

Nos finais de semana, mamãe e eu fazemos um trabalho de equipe. Enquanto um distrai o Pedrinho, o outro fica com a responsabilidade de enfiar a colher na goela com o máximo de alimento possível. Para distrair vale qualquer coisa, por mais ridícula que se torne a situação. Música, dança, piadas, imitação de bichos... nada é tão ridículo que ainda não tenha sido tentado. Para o responsável pela colher, qualquer oportunidade precisa ser aproveitada. Esteja o moleque abrindo a boca para comer, rir, chorar ou bocejar. Abriu um pouquinho a boca, toma colher para dentro!

Mas algumas vezes a batalha é solitária e é neste momento que o planejamento, a criatividade e a sorte são fundamentais. Como qualquer pessoa, Pedro tem algumas preferências culinárias. Ele gosta muito, por exemplo, de batata baroa. Ok, não o suficiente para ficar quietinho abrindo a boca e comendo tranquilamente. Mas ter a batata baroa como aliada na hora do almoço é muita sorte.

Quando acontece comigo, por exemplo, uso a batata com muita cautela e parcimônia. Ao mesmo tempo que ela deve estar presente em todas as colheradas, é importante deixar uma reserva de emergência para o final do almoço. Quando o Guigo começa a rejeitar, dou uma colherada só de batata baroa. Em geral, ele acaba colaborando nas duas colheradas seguintes até perceber que a proporção de batata baroa caiu assustadoramente e voltar a fechar a boquinha solenemente.

Os apetrechos para o almoço também devem ser cuidadosamente pensados. Depois de alguns testes, acho que a melhor fórmula é começar apenas pedindo para o menino abrir a boca. Quando ele come mais ou menos 10% do almoço a dificuldade começa e aí entram o papai noel e o boneco de neve. São bonecos que cantam e balançam a cabeça. Cada vez que um canta, o Guigo se distrai e abre a boca. Isso nos dá mais ou menos mais 5% da porção do almoço, até que ele começa a ficar entediado com aqueles bonecos. Neste ponto eu já estou prestes a jogar uma cadeira na primeira pessoa que passar cantando "dingo bell", mas sigo controlado e determinado.

A partir deste momento é necessário intercalar distrações. Canto para ele a música do Alecrim, enfatizando o "A" do alecrim na esperança de que ele vá me imitar e abrir bastante a boca cantando junto comigo. Nunca funciona, mas eu continuo tentando. Repito insistentemente alguns sons sem sentido tipo "bababa buuuuuuu", "tchi tchi tchi", "wii wii wii". Batuco com a colher na mesa e na estátua de metal que fica sobre a mesa e aperto botões em brinquedinhos sonoros. Algumas vezes faço tudo isso ao mesmo tempo, ignorando a sugestão de que a criança precisa de um ambiente tranquilo para comer.

Mas o inferno é que o garoto se distrai mesmo é com um maldito grãozinho de arroz que sempre cai no meio das pernas dele. E aí, além de não abrir a boca, ele ainda fica olhando para baixo com o queixo encostado no peito e o dedinho jogando o grãozinho de arroz pra lá... e pra cá... pra lá... e pra cá... pra lá... e pra cá... a tentação de enfiar a colher pela orelha e ver se a comida encontra o caminho sozinha dentro do Pedro é gigante. Mas até hoje eu resisti e fico apenas insistindo "meu filho, olha para o papai, vai? Aqui ó... bruuuuuuuu, tchi tchi tchi, abre a boquinha vai".

Ontem resolvi usar uma colher pequena extra para ajeitar a comida na outra colher, aquela que deveria levar o alimento à boca do Pedro mas geralmente acerta o nariz, o queixo ou fica batendo na sua boca fechada. O engraçado foi que lá pelo meio da batalha, que por sinal eu estava perdendo, fui limpar o queixo do Pedro com a colher pequena e ele abriu um bocão. Sério, foi a primeira vez na refeição que ele abriu a boca com vontade e eu estava com uma colher vazia!!!

Mas, pelo menos, percebi o truque e passei a usá-lo a meu favor. Juro que não usei a colherzinha como fórceps para abrir a boca dele. Bem, quase não usei. Deixa esta parte para lá, o truque era encher a colher principal de deixar à postos, tipo a dois centímetros da boca do rapaz. Com a outra mão, passa a colherzinha no queixo como se fosse apenas limpá-lo e no momento em que ele abre a boca, tasca comida pra dentro!

E assim, no final de uma hora de batalha, papai ostenta orgulhoso o potinho vazio, apesar do suor escorrer por todo o meu corpo e o chão ficar salpicado de comida a três metros de onde o Pedro senta para almoçar.

Beijos do pai-soldado.

Colherzona e colherinha... amigas inseparáveis!

"Abre a boquinha, vai?..."

3 comentários:

  1. Dificuldade para comer? Não puxou o papai... :)

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  2. Esta foi uma observação profissional?... :-)

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  3. Eu ADORO dar comida ao Pedro pois é muito engraçado ficar assistindo o Du tentando fazê-lo abrir a boca. Du não tem limites!

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