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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Neruda

"Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso."

Em nosso segundo dia em Santiago (não estou contando o dia da chegada porque não fizemos nada além de... chegar) fomos visitar a La Chascona, uma das casas de Pablo Neruda que foi transformada em museu. Foi uma visita acompanhada pelo Pedro então, além da visita em si, de conhecer o local e descobrir um pouco mais sobre este poeta, seria uma experiência ver como o Pedro reagiria a um passeio de adulto. E isso logo pela manhã, ou seja, quando o nosso pequeno furacão ainda estava com força total, pois não tinha gasto nada de sua energia matinal em um parquinho, por exemplo.

O resultado foi ótimo! É claro que deu um certo trabalho e papai e mamãe precisaram se revesar no áudio-guia, enquanto o outro cuidava de entreter o moleque para ele não mexer em nada e não arremessar copos mexicanos coloridos que ficavam expostos ao seu alcance, em um dos bares da casa. Aliás, era uma casa muito engraçada, com mais bares do que livros. Daqui para frente, portanto, passo referenciá-lo como "bebedor e poeta Pablo Neruda". Mas, voltando ao foco, com algum esforço de atenção, Pedro curtiu e até se divertiu na visita.

Ele quis subir sozinho e de gatinho a escada de caracol que fica escondida em um armário, correu nos jardins, achou graça de um sapato gigante e ficou apontando as diferentes esculturas e objetos e apresentando sua criativa interpretação. "Olha papai, um dinossauro de bocão do fundo do mar" era na verdade um coral marítimo. Uma estátua de madeira em tamanho natural de uma santa era "a moça sem rosto" que ele queria chegar perto, mas ao mesmo tempo morria de medo e saía correndo. Ele também estava louco para arrancar os olhinhos que ficam pendurados nas árvores... mas não deixamos.

Foi tudo ótimo mas, às vezes, ficar tão perto dele em momentos de excitação pode ser um pouco perigoso. Lá pelas tantas estávamos, eu e ele, em uma das últimas salas da visita enquanto mamãe ouvia o áudio-guia de trás para frente nas salas que ela precisou passar correndo. Pedro estava no meu colo e nós estávamos rindo e achando graça de um objeto qualquer da biblioteca. Até que ele ficou tão agitado que resolveu balançar freneticamente suas pernas, me atingindo justamente onde nenhum homem pode ser atingido sem chorar de dor.

Sério, por falta de uma maneira mais bonitinha de dizer, foi um chute certeiro no saco que me derrubou instantaneamente... parece que as pernas desmontam imediatamente e caímos os dois no chão da biblioteca, esparramando áudio-guia para um lado e o Pedrinho para outro, enquanto o papai aqui tentava recuperar o fôlego que fugiu dos pulmões. Mamãe veio correndo em socorro... achando, sei lá... que eu tinha desmaiado ou caído em um alçapão. Mesmo mancando no final da visita, adorei o passeio e recomendo a quem for a Santiago.

Beijos do papai-duda que ficou sem ar mas continuou sorrindo.

"Mamãe, um pé de olhos, vamos colher?..."

"Alô, quem é você falando portunhol?"

"Não sei pra onde corro agora..."

"Pedro, isso não é um escorrega, é uma escultura..."

"Vamos pular, vamos pular, vamos pular..."

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